Aflição que queima
A primeira quinzena de setembro já foi. Ouço de muitas vozes com diferentes
tons: o tempo está louco. Entre segunda e sexta voando, o final de semana num
piscar. Com palavras diferentes, de falas também, que sinalizam um contexto
similar. O tempo está mais ligeiro? Caminhamos em direção ao fim? O nosso como
espécie que está, infelizmente, impactando outras tantas, nesse planeta ainda
vivo, mesmo diante de tantas sequelas. Aqui no Sul global brasileiro ardemos em
queimadas que ferem os biomas, sangra nossos narizes, adoece nosso sistema
respiratório e outros emaranhados do corpo. O ar denso de poluentes, a mente
cansada, o céu desapareceu, o corpo rastejando nas selvas das cidades, alguns
orando pelas chuvas e tantas outras necessidades. Tempo de aflição. Fecho os
olhos, ouço a voz de Vozinha: não esmoreça.
Quebras e renovações
Chegou a hora de livrar-me da banheira, que pela minha vaga lembrança, usei
umas 2 vezes nos 13 anos que habito essa casa. A Isa e Arthur, usaram bastante
nos banhos brincadeiras que já ficaram na memória. Ela permanecia lá e resolveu
vazar. A água caça caminhos por entre as paredes e tetos e vai infiltrando. Não
teve jeito e ela já está lá, quebrada na caçamba de entulho. Que libertação! Sim, aquilo que não usamos fica impregnado de energia parada. Uma pequena obra traz
transtornos, mas é preciso coragem para resolver questões urgentes. Sem porta,
sem piso, sem parte do azulejo, sem os utensílios de uso cotidiano, olho para o
cenário desolador cheio de pó e penso nas dores que todo processo de renovação causa.
Riso que cura
Tenho acompanhado mãe em consultas e exames por São Paulo, a capital vizinha de
Osasco que ela e muitos desconhecem. Apesar de andar muito por lá, a imensidão
da cidade é tamanha, que muitas vidas eu precisaria para me dedicar a tarefa de
desbravar os múltiplos lugares dessa Sampa, que sim eu Amo. No dia 11/09 eu e
mãe fomos para Mooca. Estação Osasco, trem até Barra Funda e depois metrô.
Chegamos ao hospital, tomamos um café próximo ao elevador. Tenho gosto por
chegar adiantada em compromissos. Enquanto aguardávamos nosso café com pão de
queijo, duas cenas tocantes. Uma mãe e uma filha, caminhavam abraçadas, ambas
num amparo, na face de uma delas lágrimas quentes escorriam e eu senti a dor
rasgar meu coração. Fiz minha prece silenciosa. Já degustando meu café com
leite, vejo uma garota vindo do centro de especialidades, sem o lenço, sem
cabelos e com uma aura que iluminou o ambiente. Nova prece. Seguimos para aguardar
a consulta. Depois de um atraso de 3 horas, fomos atendidas na sala 11, para
onde retornaremos em breve. Mãe encanta o médico com seu jeito ímpar. Nossa
caminhada segue e que o riso continue sendo nosso aliado na cura. Amém!
Novo capítulo
Para um novo caminho, em outra especialidade. Dessa vez na Zona Sul, descemos,
Isa e eu, no metrô Santa Cruz. No prédio da consulta, o som das águas nos
recepcionando, um aroma delicioso suavizando os ambientes, um bálsamo diante da
secura lá fora. A médica excepcional, dessas conexões valiosas que a vida nos presenteou.
De lá saímos com a certeza de que a melhor das possibilidades será estudada e realizada
no tempo oportuno. Já na rua, observamos o prédio conservado de uma unidade do
Corpo de Bombeiros, entramos na centenária igreja Nossa Senhora da Saúde e
fomos arrebatadas com tantos retratos da beleza da arte sacra que tocam nossa fé.
Antes de pegar o metrô de volta, uma pausa para o lanche, teve o chocolate
preferido dela e abastecidas retornamos. Santa Cruz, República, Butantã, ônibus
e casa.
Inspiração que salva
Na sexta 13 o dia foi da Bienal. A festa dos livros, corredores cheios,
estudantes, professores, amantes dos livros, lançamentos, autores, personagens
e um mundo de saberes que multiplicam histórias. O livro é um universo. No sábado
foi dia de gravação do podcast, um espaço de troca fértil que rende diálogos
que nutrem. Teve encontro com amigos e muito mais. Eu poderia escrever muitas páginas
sobre a semana de 08 a 15/09, tantos trilhos, portas, janelas, frases, orações,
lágrimas, sorrisos, linhas e entrelinhas que seguem palpitando por aqui, mas
esse pequeno ensaio termina aqui, porque a agenda da nova semana me chama. O
som da chuva canta lá fora, vou ali preparar meu café. Hoje tem passagem por OZ
e Lapa no destino. Que meus sentidos continuem sendo tocados por inspirações cotidianas.
Bora!