Estar perto e longe ao mesmo tempo é possível? Em certo
sentido sim. As vezes tem pessoas que está ao seu lado e distante milhares de
milhas. Outras que estão fisicamente em outro continente e muito mais próxima
naquilo que importa. Estou há 32 dias longe do Brasil, na missão mãe e avó,
nesta viagem invernal e tenho refletido muito sobre esses extremos. Me
perguntaram do que sinto mais falta nessa experiência da viagem mais comprida
que já fiz. Talvez eu não consiga descrever todas as coisas porque a saudade
vai aflorando nos detalhes do cotidiano. O canto do pássaro na árvore seca desperta
lembrança, o formato de uma nuvem, o cheiro do alho fritando no azeite, o riso
das crianças e tantas cenas daqui que entrelaçam recordações de lá.
Contemplando um painel que Peaches fez das suas férias no
Brasil do ano passado, lembrei dos meus contando sobre a hora de compartilhar
na aula sobre as férias, logo após o início de cada semestre, seja na escrita,
fotos ou oralidade. Tenho escrito poucas linhas diárias sobre minha passagem
por aqui e fiquei pensando o quanto de vida esses dias estão acrescentando a
minha memória afetiva. Na gélida estação do Norte, o calor do afeto tem
aquecido minha alma. Eu sou grata por estar aqui, ainda que seja tão doloroso a
saudade de todos que verdadeiramente me amam e que estão do outro lado do
Atlântico. Sou mulher do sentir e sei bem quem são.
No começo da viagem, tivemos por aqui a companhia da Isa, a
tia amada de Peaches, Damian e Alise. Meu caçula Arthur viajou para Pernambuco.
Os dois já estão em casa desde final de dezembro. E minha maravilhosa irmã tem
me ajudado muito. Alise, a menina luz, nasceu dia 13/12/24, na Lua Crescente, dia
de Santa Luzia. Foi a primeira vez que eu pude acompanhar esse momento tão
precioso da minha primogênita que completou sua tríade. Sintonia refinada com a
mãe aqui. Eu acredito em propósito divino e sinto com toda força que a
maternidade da Bruna tem um sentido tão intenso que ela vai descobrindo e
vivenciado em cada ciclo. Quando sentimos no ventre e assim que nasce acolhemos
em nossos braços o bebê, um turbilhão de sensações percorre nosso ser. Eu jamais
vou conseguir descrever tamanha imensidão.
Uma vez ouvi: você é uma avó jovem. Nem tanto assim. Este
ano completarei 50 anos e segurando Alise no colo me pus a rezar para que eu
possa ter a graça de viver muito mais para continuar visitando-os aqui e os
recebendo no Brasil, nesse ir e vir de chegadas e partidas, nesse espaço de vida que vamos colecionando memórias. Voltando
as perguntas, para findar o texto, deixo aqui minhas simples observações sobre
essas questões cujas respostas podem ser bem diferentes para cada pessoa e até
ter semelhantes em alguns pontos com as minhas também.
Do que sinto mais falta nesse período longe de casa? São
muitas, do abraço a comida e tantas variáveis que renderiam páginas e páginas,
mas vou me deter em três que representam muitas para findar esse texto: 1- dos
filhos: do aperto abraço do meu Arthur, meu caçula que tira meu juízo e inunda
minha vida de amor e das falas da Isa, da sua sensibilidade que me abraça no
olhar. 2 - do café da minha mãe nas manhãs de domingo. Somos muito abençoados
por ter essa Maria de Fátima e tia Lane e Coca...). 3 - dos laços amizades e das conversas
presenciais profundas e recheadas de riso.
Sobre a minha pergunta - estar perto e longe ao mesmo tempo é possível? - deixo aqui outras perguntas provocações para que questionem: você está realmente presente em cada ação? Tem atenção plena na escuta do outro? Está atento a fala durante a conversa ou absorto em distrações? Quantas vezes você esteve com alguém do seu lado e se sentiu sozinha? E como é encantador quanto sentimos o contrário. Quando a pessoa está distante léguas e te conhece tanto que sente pelo som da sua voz como você está. Isso sim faz diferença. Que sejamos cada vez mais Presença real.