sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Rota de transição

O amadurecimento amplia nossa percepção do quanto a vida é cíclica. Observar a passagem das estações no meu jardim é uma das formas que pauso para enxergar nesse movimento a passagem do tempo. Os últimos 3 anos foram doloridos em diferentes contextos e, apesar das dores, tenho agradecido pela transformação que esse processo de transição está sacudindo aqui. Um dos desafios é alinhar cada vez mais as escolhas com a minha natureza para priorizar minha saúde integral. Nessa tormenta de flechas incendiarias de todos os lados, mergulhar no silêncio tem sido um bálsamo. Menos é mais e vice e versa.

Enxergar o aprendizado do caminho percorrido, erros e acertos, perdas e vitórias, e sentir-se viva para vislumbrar no horizonte o potencial de fertilizar novas gestações, traz muita esperança. Olhar o passado ressignificando cruzes que latejam, tem me ajudado a cicatrizar pouco a pouco feridas que ainda sangram. Quantas vezes fugimos desse confronto? Lançar luz sobre a escuridão te obriga a encarar de novo, mas agora com outra leitura, sentimentos que carecem de cura. Navegar nesse oceano revolto para chegar a outra margem não é apagar a memória, é um chamado para recomeçar com uma bagagem mais leve. Muitos chamam de deserto e temos que exercitar a resiliência para encontrar o oásis nele e beber da fonte da renovação.

Pausar é uma afrronta em uma sociedade que te cobra a ser competitivo e produzir freneticamente. É preocupante o quanto essa cobrança e necessidade tem adoecido as pessoas. Os números do estresse, burnout e outros distúrbios físicos e psíquicos retratam o saldo dessa lógica do consumo excessivo em diversas linhas. No outro extremo, tenho visto pessoas retomando conexões reais e alterando a rota em busca de um equilíbrio sustentável, algumas depois de passar por situações severas de exaustão e rupturas desencadeadas por relações alimentadas por esse sistema doentio, que tem nos números o maior valor. E o que fazer com as sequelas? Uma motivação para uma nova caminhada acreditando na sua capacidade regenerativa. Você não está sozinho e buscar apoio nessa transição é fundamental.

As experiências marcam. Estar diante da fragilidade e finitude é um convite amargo e doce, uma dualidade que nos faz valorizar o que é eterno na existência. É um valor que não tem medida. É indizível. Demonstrar sua vulnerabilidade também é uma fortaleza. Tem que ser forte. Você é guerreira. Quantas vezes ouvi isso enquanto eu estava dilacerada? Muitas. Precisamos nos permitir sentir e ser. Acredito que é nesse partilhar que vamos nos libertando e sarando. Dizem que nessa fase da menopausa vamos ficando mais chata, eu substituo por seletiva. Claro que os muitos sintomas provocam um turbilhão. No meu caso tenho refinado meu filtro.Por exemplo, vejo muito carisma fake, gente que atua com falsa alegria apenas para vender produtos, serviços ou sua máscara, sendo influencer de mentiras, mascarando violências e entrando nessa bolha de padrões. O afastamento dessa rede faz bem. Aguçar a intuição para focar em relacionamentos que nutrem faz toda diferença.

Transitar no território de mudanças não é tarefa fácil, nos coloca diante de medos e incertezas. Tem uma frase de Clarissa Pinkola Estés que tem ressoado com força: “Ser nós mesmas faz com que nos isolemos de muitos outros e, entretanto, ceder aos desejos dos outros faz com que nos isolemos de nós mesmas.” Praticar essa verdade aflora uma seleção natural e potente. É preciso muita coragem para reconhecer e priorizar você como sua casa e construir diante das possibilidades que tem, a pavimentação de uma nova estrada. Seguir em frente em um novo roteiro abre janelas para aflorar seus próprios recursos, muitas vezes adormecidos pela rotina de demandas externas e desalinhadas com sua essência. Na profundidade habita a luminosidade. E que essa inspiração guie meu novo caminhar:

Dar o coração para uma nova criação, para uma nova vida...é uma descida ao reino dos sentimentos. Pode ser difícil, especialmente se estiver ferido...No entanto, ele existe para ser tocado, para dar vida plena...” Clarissa Pinkola Estés

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