Estamos sempre cercadas de pressão e eu observo, com muito pesar, muitas mulheres aprisionadas no que os outros vão dizer, tentando se moldar em padrões que contrariam sua essência. A ausência de ser quem é vai adoecendo as mulheres nas suas próprias mentiras, algumas que nem elas mesmos enxergam ou, mascaram como bloqueio. Por mais que já tenhamos avançados em muitos quesitos, há um longo caminho para compreender e viver o amor como verdade nas relações, a começar por si mesma. As notícias dão conta de que a ansiedade está nas alturas e a saúde mental das pessoas em péssimo estado. Ser taxada de louca, dramática, de isso é frescura, ter receio de nomear os sintomas e de buscar apoio, vai formando um vulcão que quando explode atemoriza ainda mais. Porque o corpo vai dando sinais e nós vamos negligenciando ou escondendo, por medo e vergonha. É sempre uma barreira para todas as mulheres que enfrentam as discriminações nocivas que ferem. Os homens também sofrem, embora camuflem os danos que esse sistema algoz impactam neles e seguem reproduzindo comportamentos tóxicos.
Acompanhar de perto situações dolorosas tem me ensinado
muito. Adversidades todos já enfrentamos e seguiremos com elas em algumas
estações da estrada, como as elaboramos é o que faz diferença. Essa elaboração é
uma tarefa difícil, vamos chorar, sentir tristeza, raiva, medo e dor. Não
acredite nessas fórmulas que vendem nas mídias sociais de pessoas felizes o
tempo todo, equilibradas nas suas rotinas publicadas e muitas vezes esmagadas no
real cotidiano. O equilíbrio total é uma ilusão. Não alcançaremos jamais. A busca
insana por colocar em prática esses modelos sufocam as pessoas, ampliam a
ansiedade e nos aprisiona em padrões que nos convocam a consumir fórmulas irreais
em formas de make, academia, coaching e tantos outras receitas. E não estou
aqui dizendo que isso não seja importante. Sim, devemos fazer exercício físico,
cuidar do corpo, fazer consultas e exames, fazer terapia se possível, cuidar da aparência, tudo isso e
muito mais são válidos. A questão aqui é que nos “vendem” - sim isso é mercadológico
– como uma possibilidade “fácil” sendo que é incompatível com a realidade de
tantas mulheres. A propagação da comparação é cruel.
Esse ensaio todo acima foi motivado pelos diálogos recentes e das vivências reais,
minhas e de outras amigas sobre temas que atravessam nossas existências.
Pensando nas observações que escutei, nas lágrimas que ajudei a enxugar, nos
apertos de mão e nos abraços que acolhem, escolhi o título. E recordando de tantas
“pressões”, lembrei agora de um exemplo simples. Quantas noites eu fui dormir angustiada
em ver que não tinha conseguido fazer tudo que estava anotado na agenda e
imaginando como estava falhando o tempo todo. E sequer olhava para o que eu
tinha realizado e que era muito. Tenho até uma amiga que fica cansada só em
ouvir o relato de minha rotina em alguns dias. Até que fui me libertando aos
poucos, dentro do privilégio que tenho hoje com minha agenda flexível, de ir me
adequando ao tempo possível, dentro das minhas possibilidades, apagando
incêndios aqui e acolá, priorizando atividades que amo como ler e escrever, sem
negligenciar itens importantes com a alimentação e a caminhada, e tendo a
leveza de saber que eu não vou dar conta de tudo sempre e que em alguns dias eu
posso até me surpreender. E tudo bem! Essa construção é contínua, com todos os
desafios e dores que acontecem nas distintas intercorrências em nosso cotidiano.
Nessa cachoeira de reflexões, vislumbro lampejos de
esperança em livros como o de bell hooks, Djamila Ribeiro,Clarrisa Pinkola
Estés, no podcast Bom dia Obvius, no programa Sem Censura da TV Brasil, nas provocativas
e sensatas colocações de Elisama Santos, nas narrativas que ouvi nas gravações
do podcast Sonho e Pele e em outros que costumo divulgar para o meu grupo de
amigas. Cada vez que assisto fico agradecida por enxergar que há uma onda crescente
que respeita as diferentes pessoas e circunstâncias, valorizam a autenticidade,
os saberes locais, com abordagens de modo educativo e até lúdico sobre pautas
tão necessárias como a maternidade, menopausa e outras interconectadas do
universo feminino e da sociedade. Esses dias assisti um episódio falando sobre solidão
e solitude que me fez pensar tanto nesse prazer de estar só. Em quantas mães
sentem falta desses momentos únicos, dela com ela mesmo, até para se
reencontrar. Eu mesmo que adoro circular sozinha já ouvi certa vez com tom
bem preconceituoso: “como você tem coragem de sair sozinha e deixar seus filhos?”
Bom, eu me reservei o direito de não gastar minha energia respondendo, mas essa
fala evidencia a falta de reconhecimento de que SIM, a mãe precisa de um tempo para
respirar sozinha!
É por isso que me esforço para sair com as amigas e ter
nossos momentos. Para extravasar nossas emoções em risadas que ecoam, tomar um
café para partilhar afetos, acompanhar nas orações porque eu sambo mas rezo
também. Esses encontros são mágicos porque nos fortalecem. A amizade é um antídoto
para a solidão e um alimento para a solitude. Quantas vezes, em minhas horas de
leitura ou silêncio vem a lembrança de uma frase das amigas ou de uma situação
que precisa de minha prece, da indicação de alguém que pode ajudar, de um abraço
ou mensagem. E aqui a conexão da proximidade sagrada acontece evidenciando que
presença se faz ao vivo porque marca os sentidos, e continua na memória que
fica tatuada como aprendizado e afeto. Todas as minhas amigas, dentro dos seus
contextos, corres, crenças e medidas, têm suas lutas. Eu creio com toda força que
somos seres emocionais e que juntas temos a capacidade de ser rede de apoio que
nutre. E meu clamor perene é esse: nesse mundo que quer nos distanciar com uma
competição ferrenha, sejamos vozes, escutas, mãos, abraços e oportunidades umas
para outras. Escolha bem as pessoas e os conteúdos que irão te nutrir e curar. Amizade
é relação curativa.
Para finalizar, como eternizou bell hooks: amor é acima de tudo ação!
